Meu filho tem 6 anos de idade.
Este ano ele me pediu uma mochila para ir à escola, sem rodinhas, porque disse que prefere assim, apenas carregando nas costas. E assim ele ia, feliz da vida.
Mas eu percebi que em alguns dias a mochila ficava muito cheia e pesada.
Incomodado, criei um carrinho - aproveitando a mochila do ano anterior, com rodinhas - para que ele pudesse por a mochila quando estivesse cheia.
Hoje fomos estrear e... Que decepção!
A calçada é tão irregular e malcuidada que se torna um estorvo andar com aquele carrinho por elas.
O que era para lhe dar conforto, lhe causou transtornos.
Para completar, a calçada tem pouco mais de um metro de largura, não dá para passar 2 pessoas em sentido contrário sem desviar. Em contrapartida, a rua tem seção para 5 carros! Um carro estacionado em cada lado da rua + espaço para passar 3 no meio.
Que rua é essa?
É a
Rua Bambina, em Botafogo, Rio de Janeiro. Mas poderia ser qualquer uma de nossas cidades brasileiras.
Algumas imagens da rua (clique para ver ampliadas):
Seção de calçada 1 (imagem do google maps)
Seção de calçada 2 (imagem do google maps)
Seção de rua 1
Seção de rua 2
Observem os disparates entre a largura da rua e da calçada!
...
Parece uma caso isolado, mas este é só mais um episódio de nosso cotidiano em nossas cidades tomadas pelas máquinas. É só mais uma tristeza diária.
Me fez pensar e perceber como a gente virou escravo das máquinas. Olhando a mesma rua - na seção para os motorizados - o asfalto é quase impecável.
Incrível! (Ou, Crível?)
Se você é um motorizado é tratado a pão-de-ló, mas se é um simples pedestre tem mais é que sofrer!
Filmes futuristas apocalípticos soam "ficções" científicas quando nos mostram um futuro em que o ser humano é dominado pelas máquinas, em muitos até, dizimado por elas.
Engraçado é que nossos olhares para estes filmes são quase irônicos, como se aquilo fosse só uma "ficção" de algum maluco doidão.
Mas! Este futuro já começou! Ele é nosso presente! Nossas cidades já são escravas das máquinas!
Veja que triste prova disso em Calcultá, na Índia (sim, a nação de Gandhi!).
Quem não vive enfurnado em um motorizado não tem espaço mais nas cidades!
Tenho comprovado isso cada vez mais e mais e mais em nossas vidas quando optei por não ter carro. Esta decisão me fez conhecer uma cidade diferente. Comecei a olhar para ela com outros olhos, com olhos que nós - escravos das máquinas - não temos: a cidade só é preparada para quem tem ser veículo motorizado. Se você opta - ou precisa - se locomover com a força de sua propulsão humana deve mais é sofrer!
Isso é exclusão! É pensar que a cidade é apenas para poucos, para os que
acham que podem mais!
Essa é a cidade apocalíptica do futuro!
Essa não é a cidade que quero para mim, para os meus, para o meu filho! Espero que você também não queira!
Não quero ser escravo das máquinas! Nem acordar um dia percebendo que o terror dos filmes apocalípticos está acontecendo! Como hoje.
...
Antes que algum bobo sem argumento ou leituras venha dizer "então porque não voltamos a andar de carroça?", devo dizer que existem infinitos valores entre o "0" e o "1", ou seja, não ser escravo das máquinas não significa VOLTAR ou RETROCEDER.
Este é a típica frase feita de um ser que caiu na preguiça de agir e de pensar, resultado da escravidão pelas máquinas.
Por favor, vamos exercitar nossa criatividade e pensar em possibilidades NOVAS, em um mundo que priorize AS PESSOAS, não as máquinas!
Enfim, isso é um desabafo, mas ao mesmo tempo uma chamada à nossa consciência, uma chamada à ação! Vamos mudar o nosso futuro, sendo agente dele!
Ou queremos ser os humanos do WALL-E?
Quer mais? Para pensar mais um pouco a quem devemos dar prioridade!
Quer mais? Assista:
A escala humana.
E mais:
Cidades para pessoas.
Em tempo: antes que digam que sou um "hippie anticapitalismo": leiam outros artigos por aqui, eu não execro os veículos motorizados, estes são úteis em várias situações de fato; execro apenas as pessoas que se fazem escravos deles.
Até o próximo...
PS: Além deste fato de hoje e inúmeros em nosso dia dia, este artigo foi fortemente motivado por este: Devolvam a cidade para as crianças!