terça-feira, 8 de maio de 2012

A Lei Seca e as bicicletas elétricas - parte II

Este é um post de continuação, o anterior estava ficando longo...

Pois bem, uma vez que expus os detalhes técnicos das e-bikes, vou falar agora sobre a realidade sobre elas, sobre o dia a dia das cidades com estes veículos.

Estamos vivendo uma onda de "Eco-corretos", um monte de gente preocupada com o meio ambiente e pensando em ações em prol de uma vida mais saudável.
Eu sou um deles.
Mas como somos seres humanos, há distorções para tudo.

O veículos elétricos surgem num momento que há uma grande preocupação com o meio ambiente, muita gente vê estes veículos como uma alternativa de transporte motorizado que "polui menos" e se engaja na causa "Eco-correta".

As e-bikes vem neste bojo, reforçada pela ideia de que a bicicleta é uma ótima opção para melhorar a vida das pessoas nas cidades de hoje e de amanhã.

Então as e-bikes parecem perfeitas: duplamente ecológicas! Não é?

Bem, parte de nós brasileiros aprendemos que "é importante levar vantagem em tudo, certo?", e assim se viu uma ótima oportunidade de negócio nesta coisa de "bicicleta elétrica".

Eu tenho visto por aí empresas vendendo as e-bikes como o transporte do futuro: além de ser uma ótima "alternativa econômica", pois é uma "moto que não precisa de habilitação, não paga IPVA, e não consome combustível", está na moda, pois você "faz bem ao meio ambiente".
Que coisa linda!

Sobre fazer bem ao meio ambiente, já vimos que as baterias de chumbo são - na verdade - verdadeiros venenos (mas não se iluda, as de lítio também não amigas de Deus).

Confesso que - quando ouvi falar delas pela primeira vez - pensei:
- "Nossa, isso vai ser uma coisa boa, porque tem tudo para ser a transição de pessoas que gostariam de usar bicicleta como meio de transporte, mas não se sentem preparadas para pedalar! Começam com as e-bikes e aos poucos migram para as bicicletas!"

Eu até soube de gente que fez mesmo esta transição, mas isso é uma rara exceção. O perfil dos compradores das e-bikes é composto basicamente de (uma ou várias destas):

  • pessoas sem experiência em pedalar
  • pessoas que "tem medo de andar de moto"
  • pessoas que acham moto caro e precisa de habilitação
  • pessoas que não estão de fato preocupadas com o meio ambiente
  • pessoas que não seriam capazes de controlar habilmente uma bicicleta a 30 Km/h. Creiam, manter uma bicicleta em movimento a uma uma velocidade constante de 30Km/h não é tarefa para qualquer um!

Outra: existem pesquisas que mostram que uma parcela irrisória das pessoas que usam bicicletas como meio de transporte, o fazem por causa do meio ambiente. Não tenho o número aqui, mas é algo próximo de 5%.
Se para as bicicletas o número é tão baixo, imaginem para as e-bikes!

Por conta disso o que temos visto aqui no Rio de Janeiro é o início de uma profusão destas e-bikes transgredindo todas as regras de boa convivência social:
  • Andam correndo na contramão
  • Andam correndo sobre as calçadas
  • Andam em ciclovias
  • E acima de tudo: em velocidade acima da média dos outros modais em em seus respectivos meios
Elétrica: da ciclovia para a faixa de pedestres (imagem do RJTV).

Tomara que a imagem acima não inspire o prefeito a equiparar as e-bikes a pedestres!

Eu tenho visto muitas transgressões e desrespeitos, aliás, é difícil narrar alguma vez que vi uma e-bike numa situação regular! E nem estou sendo legalista, é apenas uma questão de convívio social e coletividade!

É cada vez mais comum eu estar andando na calçada com meu filho de 4 anos e dar de cara com uma destas, forçando para passar a uma velocidade incompatível com a via.
Reclamar?
Com quem? Com a prefeitura - ignorante  - que acha que isso é bicicleta?
Baseado em que legislação?
Baseado em que princípio de convivência?

Bicicletas também andam nas calçadas - mesmo que consideremos que "não deveriam", mas na maioria dos casos, fazem por medo ou por insegurança de encarar péssimos motoristas. Entretanto, em quase todas as vezes que isso acontece é possível interagir com o ciclista e argumentar - caso se aplique, pois quase sempre a velocidade é mais compatível com a via.

Em contrapartida, em relação aos e-bikers, a observação é diferente: quase 100% deles anda na calçada, na contramão e CORRENDO! E pior: agora, com o decreto do prefeito (veja abaixo) que acha que ciclo-elétrico é bicicleta, eles creem que podem andar nas ciclovias!

Enfim, os usuários das e-bikes aqui no Rio de Janeiro estão abusando muito. Isso precisa ser regulado de verdade, tecnicamente. E punido!

Se encararmos que as e-bikes devem se portar como bicicletas, elas então devem andar na rua e na mão dos carros, e se encaramos que devem se portar como ciclo-elétricos devem andar nas ruas e na mão dos carros!

Portanto, a farra precisa acabar!
...
Enquanto escrevia este artigo, o prefeito do Rio de Janeiro publicou um decreto igualando as e-bikes às bicicletas. Tudo bem, a ignorância faz parte do ser humano, como já disse um amigo meu: "não se apoquente, burrice e ignorância é coisa que só dá em gente".

O link para o decreto e a notícia está aqui, mas em resumo: ele equipara estes ciclo-elétricos a bicicletas, de tração humana. Pelo decreto estas motonetas não podem passar de 20km/h nas ciclovias.
Mas ele esqueceu de dizer se teremos - a partir de agora - pardais nas ciclovias, ou se deveremos andar com nossos próprios radares de mão.

É uma pena, uma cidade que é "amiga da bicicleta" liberar o trânsito de motonetas em ciclovias.
Mas estamos em ano de eleições...
...
Depois de tudo isso você deve estar achando que eu sou contra as e-bikes, não é?

Bem, devo dizer sou contra encará-las como bicicletas, porque não são. As e-bikes tem motor. Ponto.
Por possuírem motor estão mais próximas de ciclomotores do que de bicicletas, que só são movidas por tração humana.

Sou também a favor de diferenciar os tipos de e-bikes: as aceleradas são claramente diferentes das assistidas, pois estas só andam quando pedaladas e possuem limitador de velocidade quando assistidas. Sou a favor de que tomemos como exemplo o que é feito na Europa.

Mas acima de tudo: sou contra encará-las como produtos ecologicamente corretos, pois também não são: a energia gasta para produção das baterias é grande e não se tem estudo definitivo provando que o gasto energético é "mais ecológico". Pelo contrário existem estudos em andamento que mostram o contrário.
As baterias são poluentes e não são recicláveis de fato, principalmente no Brasil. A baterias de chumbo então são lástimas, verdadeiros venenos.

Algo semelhante aconteceu com a indústria que achava - no passado - que o plástico seria a solução do futuro. Hoje sofre para saber o que fazer com as sobras.

Enfim, eu sou um ativista do compartilhamento, não da segregação, portanto acho que deve haver espaço para todos. Mas não podemos tapar o sol com a peneira, preparando o mundo apenas para o mais forte. O mundo não pode ser dos motores, deve ser das pessoas!

Há poucos dias me relembraram das frases de Mário de Andrade: "as pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos" e "meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa".

Como ele, eu queria mesmo é me embrenhar nos conteúdos, não nos rótulos!

Até o próximo...

PS: Quer ver como o decreto é "democratista"? dê uma olhada nesta matéria do RJTV

PS2: Agradeço mais uma vez às informações do Zé Lobo da T.A., do Arlindo, Cristiano e vários da lista da Bicicletada RJ. Que não necessariamente concordam com tudo que escrevo aqui, mas muito me ajudaram.

6 comentários:

  1. Olá! Amo bicicletas e quando criança/adolescente era o meio de transporte mais utilizado pela família. Depois, vim morar em cidade grande, a vida em bicicleta complicou, comprei carro etc. Estou, aos poucos, voltando a fazer uso de bicicletas e pensando muito em comprar uma dobrável blitz/jet que tem a opção pedal assistido. Como vc, também não considero as e-bikes como bicicletas, mas acredito que no meu caso, esse sistema vai me dar a possibilidade de levar/buscar minha filha à escola (um trajeto de seis quilômetros na cidade, aproximadamente) além de ir/voltar ao trabalho, a dois quilômetros de minha casa. Penso na pedalada assistida por dois motivos: moro numa subida, embora curta, me dá trabalho e empurrando perco preciosos 10 minutos no horário de almoço (a hora da maior correria) e como já disse, numa bicicleta acabo chegando meia hora em média atrasada para o período da tarde e acabo pegando o carro por isso, pois infelizmente é mais fácil entenderem que fiquei presa no engarrafamento do que entenderem que de bicicleta faço uma média de 10 km por hora, pois preciso descer, atravessar ruas, esperar sinais etc.

    Parabéns pelo blogue, pelo diálogo aberto. Obrigada!

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  2. Então, acabei não fazendo a pergunta que queria: o que você acha da opção de uma blitz com pedalada assistida para o meu caso? Leve em consideração que sou mulher e estou a um mês do quinquagésimo aniversário!!!!

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    1. Olá Célia,

      Muita coisa se passou desde que escrevi este artigo. A legislação mudou e hoje já existe uma formulada especificamente para as e-bikes, que diz mais ou menos o seguinte: as bicicletas elétricas que possuem acelerador são agora equiparadas a ciclomotores; para as conduzir é necessária a ACC - autorização para condução de ciclomotor, além de ser obrigatório o uso de capacete e não ser permitido o uso em ciclovias.
      As chamadas pedelecs - ou bicicletas com pedalada assistida - são equiparadas à bicicletas, podem andar em ciclovias e tem uma legislação mais amena.

      Para mim a legislação foi perfeita, serviu para acabar com a farra que os vendedores faziam com os consumidores que não sabiam de nada e vêem em vendedores alguém qu "conhece do assunto".

      Veja uma pequena entrevista que dei para o Jornal das 10 da Globo News na época que a legislação saiu: http://globotv.globo.com/globo-news/jornal-das-dez/v/ciclistas-de-bicicletas-eletricas-com-acelerador-terao-que-tirar-habilitacao-no-detran/3043185/

      Então eu posso lhe dizer que não nada contra uma ou contra outra, desde que se respeite a legislação vigente. Acho que existe espaço para as duas, porém, não podemos de deixar de levar em consideração a questão das baterias de chumbo e a qualidade das bicicletas.

      Baseado em tudo que acabei de escrever, eu posso lhe dizer que acho as pedelecs uma boa opção para algumas necessidades específicas, como a sua por exemplo. Eu não indico que você compre uma com acelerador - como a Blitz Jet, por exemplo - pois pode ter problema com a legislação caso não siga as regas à risca.

      Hoje a única e-bike que eu indicaria em nosso mercado é a SENSE bike. Possui componentes honestos, atende à nossa legislação no quesito pedelec e eu até poderia dizer que é uma boa bicicleta. Fora ela não há nenhuma outra no mercado que ache que vale à pena.

      Se precisar de mais ajuda é só falar.

      []s

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  3. Já viram a E-Totem 250? Pedal assistido e desliga automaticamente o motor ao passar dos 25 km/h. Sem acelerador... tudo certinho como deve ser. Boa autonomia e carregador automático.

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  4. Já viram a E-Totem 250? Pedal assistido e desliga automaticamente o motor ao passar dos 25 km/h. Sem acelerador... tudo certinho como deve ser. Boa autonomia e carregador automático.

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  5. Oi Robson, antes de tudo, parabéns pelo blog. Não paro de ler desde ontem. Estou literalmente devorando tudo (rsrsrs). Você mencionou a e-bike sense easy mais acima. Estava pensando em perguntar para você se ela tem uma estrutura boa e se é confortável. Vale a pena? Eu sou uma mulher com quase 50 anos querendo ir para o trabalho de bicicleta (são 5km), mas não tenho muita força nas ladeiras. Outra pergunta que eu queria fazer é se você já viajou de avião com a bicicleta dobrável? Você teve que despachar? É seguro? Bom, super obrigada pelo blog e por qualquer ajuda que você possa dar! Abraços.

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