sexta-feira, 1 de julho de 2011

Voluntariado e Senso de Coletividade (Parte 1)

No último fim de semana fui levar meu filho, para passear e brincar - como de praxe. Desta vez, como visitava um amigo, levei-o a um parque próximo a sua casa, público, novo, numa praça em Niterói que ainda estava em "fase de finalização".
Muitas crianças brincavam, pouquíssimas mães e nenhum pai; eu era o único. Por ser o único pai ali, naturalmente causei muito estranhamento às crianças presentes: da forma como brincava com meu filho, as outras crianças paravam suas brincadeiras para nos observar, envoltos e felizes por ver meu filho tão feliz brincando comigo. Alguns deles logo pararam suas brincadeiras para participar das nossas. Foi uma ótima festa para todos. Poucos momentos de felicidade que valem o dia!
Relato isso porque uma coisa em especial me chamou muito a atenção: como o parque ainda estava em "fase de finalização", muitas (grandes) pedras soltas na área de recreação ameaçavam as crianças de muitas formas: umas pisavam e tropeçavam, outras as pegavam para jogar longe, ameaçando ferir outras. Alguns poucos adultos presentes afastavam - inutilmente estas pedras. De fato ainda parecia um fim de obra.
Ao fim, tudo ficava como antes: as crianças iam ali, brincavam e iam embora, no dia seguinte algumas provavelmente voltariam, e provavelmente a cena se repetirá: pedras no caminho ameaçando a segurança das crianças. E ninguém provavelmente fará nada.
Fiquei intrigado com aquilo, ao fim do dia comentei com um amigo dizendo:
- Incrível, se eu morasse aqui - tendo filho - a primeira coisa que faria seria limpar aquela área de recreação das crianças, parece que todos ficam esperando a atuação do estado para resolver uma coisa tão básica, que envolve diretamente a segurança de nossas crianças. Não agem e - provavelmente - reclamam que o governo não faz seu trabalho corretamente. Uma ação básica, cidadã, que beneficiaria todos.
O amigo comentou:
- Robson, é difícil encontrar esta consciência nas pessoas.
...
Abaixo cito um trecho de um relato de um brasileiro em seus primeiros dias vivendo na Europa (veja o relato completo em Brasileiro na Volvo-Suécia):

A primeira vez que fui para lá, em 90, um dos colegas suecos me pegava no hotel toda manhã. Era setembro, frio, nevasca. Chegávamos cedo na Volvo e ele estacionava o carro bem longe da porta de entrada (são 2.000 funcionários de carro). No primeiro dia não disse nada, no segundo, no terceiro... Depois, com um pouco mais de intimidade, numa manhã, perguntei:
- Você tem lugar demarcado para estacionar aqui? Notei que chegamos cedo, o estacionamento vazio e você deixa o carro lá no final.
Ele me respondeu simples assim:
- É que chegamos cedo, então temos tempo de caminhar - quem chegar mais tarde já vai estar atrasado, melhor que fique mais perto da porta. Você não acha?
...
É.
Estes pensamentos são - vez por outra - questionados por alguns, dizendo que "não estamos na Europa", "isso é uma utopia", "as pessoas não pensam assim", "...". E é claro que também reflito sobre tudo isso.
O que tenho a dizer é que fazer trabalho voluntário ou agir pensando na coletividade não é coisa de extra-terrestre ou de "pessoas-especiais-que-estão-pensando-sempre-no-bem-coletivo".
Isso é coisa de gente comum, como eu, como você.
O ser humando é capaz de usar um carro para passar por cima de dezenas de pessoas pedalando, pegando-os pelas costas e dizer que se sentia ameaçado por estas pessoas.
Mas o ser humano também é capaz de ajudar o outro!
Enfim, é o ser humano.
Ajudar o outro, ou simplesmente agir tendo a consciência de que qualquer ação nossa impacta diretamente na vida de outros é bem simples; qualquer pessoa é capaz de fazer.
Andar de bicicleta e trazê-la para o dia a dia é muito mais que resolver um prazer ou necessidade pessoal: é também contribuir para o conjunto das pessoas, já que estamos de fato melhorando a cidade, menos poluição, menos carros, mais agilidade, mais saúde.
Mas isso também só pode ser verdadeiro se estamos mesmo pedalando e respeitando o outro.

Este assunto continua...

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